Por Cintia Tanure
Em várias instituições de saúde, públicas ou particulares, ainda é comum a visita de equipes (multidisciplinares ou não) ao leito para a discussão dos casos clínicos na frente do paciente. Durante esse breve espaço de tempo em que o paciente recebe a visita dos profissionais de saúde responsáveis pelo seu cuidado, os profissionais debatem, utilizando jargões de saúde, sobre sua história e principalmente sobre a evolução do seu caso. Neste momento, a existência do paciente muitas vezes é desconsiderada, são poucas as vezes em que o paciente é convidado a participar da conversa, e quando isso ocorre, é apenas para confirmar sintomas ou esclarecer algum detalhe, que para a equipe esta pouco claro. Nesta discussão, a equipe descreve exames já realizados, resultados bons e ruins, possibilidades de outros exames ou condução do caso.
Durante este curto espaço de tempo, ao paciente, que não consegue entender as palavras utilizadas para descrever seu estado de saúde, resta se manter calado e responder somente quando solicitado. Esse processo de exclusão do paciente na conversa sobre sua saúde causa insegurança e aumenta a sua ansiedade e preocupação.
A inclusão do paciente durante todos os encontros clínicos é crucial para um cuidado personalizado, e o Cuidado Centrado no Paciente não pode ser realizado quando a conversa é sobre o paciente, mas não é realizada COM o paciente.
Nas visitas clínicas, o paciente deve se sentir integrante do seu cuidado, ele pode por exemplo, descrever o motivo de sua internação aos que não conhecem seu caso (demais profissionais da equipe de visita), relatando o histórico da doença. Essa é uma das múltiplas estratégias possíveis para inclui-lo. Possibilitar que suas necessidades e vontades sejam transmitidas para todos os presentes é outra maneira de colocá-lo no centro do enfoque terapêutico.
Para realizar o Cuidado Centrado no Paciente, nós, profissionais da saúde, precisamos mudar atitudes e hábitos antigos que excluem o paciente do centro das ações, e colocam a doença ou até mesmo o profissional neste lugar. As oportunidades de envolvimento dos pacientes podem ser significativamente moldadas pela maneira como o cuidado é realizado, pelos valores e habilidades especificas dos profissionais de saúde e pela forma como promovem a inclusão do paciente em todos os momentos, gerando um cuidado de qualidade.
Shortus, T., Kemp, L., McKenzie, S., Harris, M. 2013. Managing patient involvement: provider perspectives on diabetes decision-making. Health Expectations, 16: 189–98.
Glyn Elwyn. Shared Decision Making in Health Care (p. ii). OUP Oxford. Edição do Kindle. Shared Decision Making in Health Care Achieving evidence-based patient choice. 3ªed. Oxford.