No ano de 2024, para o Dia Mundial da Segurança do Paciente, a OMS escolheu o tema “Melhorar o diagnóstico para a segurança do paciente”, cujo lema é “Diagnósticos corretos, pacientes seguros”. A OMS objetiva chamar a atenção para a importância de diagnosticar corretamente e em tempo oportuno, de modo a garantir a segurança do paciente e alcançar melhores resultados clínicos1.
Erros de diagnóstico são responsáveis por 16% dos danos evitáveis ao paciente e são comuns em todos os ambientes de cuidado em saúde. Tais erros podem piorar os resultados do paciente e, às vezes, levar à incapacidade prolongada ou grave, ou até mesmo à morte, e aumento dos custos dos serviços de saúde.2
Em geral, os erros de diagnóstico não são enfocados sob a perspectiva do paciente, isto é, à luz da importância do papel ativo do paciente no encontro clínico para a acurácia do diagnóstico e a prevenção de erros. Contudo, ao nos deparamos com a demarcação do conceito de erro de diagnóstico realizada, em 2015, pelo National Academies of Sciences, Engineering and Medicine (NASEM), ao publicar o Improving Diagnosis in Health Care3, verifica-se que ao paciente foi conferida uma centralidade até então inexistente, incluindo a sua perspectiva e a falta de comunicação do diagnóstico ao paciente como uma forma de erro4.Com efeito, considera-se que há a ocorrência de erro de diagnóstico quando o diagnóstico é tardio, incorreto ou não realizado, ou quando a informação não é comunicada ao paciente5.
Segundo as pesquisas sobre empatia clínica, a literatura aponta para o fato de que entender o que a doença significa para o paciente é o primeiro passo para um acurado diagnóstico, prognóstico e tomada de decisão. A empatia contribui para a melhora da acurácia do diagnóstico, mormente em razão do paciente se sentir mais confortável para revelar informações pessoais embaraçosas. Estudos sobre o tema apontam que os pacientes revelam sua história seletivamente, de acordo com a sintonização emocional do profissional de saúde e com a empatia que expressam em tempo real6.
Nesse sentido, destaca-se que a relação de parceria entre médico e paciente é essencial para um diagnóstico acurado, isto é as interações entre profissional e paciente foram identificadas como um fator contribuinte significativo para casos de erros de diagnóstico7, o que implica a superação do modelo paternalista8 e a mitigação da assimetria de poder que a constitui9, centralizando o paciente no cuidado. Endossando a importância da relação de parceria entre profissional e paciente, pesquisas demonstram que a ausência dessa relação é um obstáculo para que o paciente narre de forma ampla o seu histórico de saúde, fazendo com que possa esconder a “agenda oculta” (depressão, abuso, medo), além disso pode fazer com que o paciente não realize os testes de diagnósticos propostos, após a consulta.10 Desse modo, quando o modelo de cuidado não é alicerçado na centralidade do paciente, há maior chance de se desconsiderar o conhecimento do paciente sobre a sua condição, não se estabelecer uma aliança terapêutica e do paciente não contar com um espaço seguro de escuta e fala11.
Segundo a OMS, envolver ativamente os pacientes no processo de diagnóstico é um investimento de baixo-custo para a prevenção de erros, o que implica uma mudança cultural e de perspectiva dos profissionais e líderes das organizações de saúde quanto ao papel do paciente durante toda a jornada do diagnóstico12.
.Os pacientes não estão passivamente à espera de um diagnóstico, mas sim são parceiros ativos durante toda a jornada para alcançá-lo13. O diagnóstico correto e oportuno requer o engajamento do paciente e a efetivação do Cuidado Centrado no Paciente, desse modo, clama-se para que, no Brasil, a segurança do paciente e a centralidade do cuidado no paciente sejam políticas públicas para toda a população, expressando o compromisso com a prevenção de erros de diagnóstico e com o cuidado em saúde de qualidade.
1 WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Patient Safety Day, 17 September 2024: “Improving diagnosis for patient safety”. Disponível em: https://www.who.int/news-room/events/detail/2024/09/17/default-calendar/world-patient-safety-day-17-september-2024-improving-diagnosis-for-patient-safety. Acesso em: 4 set. 2024.
2 WORLD HEALH ORGANIZATION. Campaign key messages. Disponível em: https://www.who.int/campaigns/world-patient-safety-day/world-patient-safety-day-2024. Acesso em: 4 set. 2024.
3 GIARDINA, Traber D. et al. Defining Diagnostic Error: A Scoping Review to Assess the Impact of the National Academies Report Improving Diagnosis in Health Care. J Patient Safety, v. 18, n. 8, 2022, p. 770–778.
4 GIARDINA, Traber D. et al. Defining Diagnostic Error: A Scoping Review to Assess the Impact of the National Academies Report Improving Diagnosis in Health Care. J Patient Safety, v. 18, n. 8, 2022, p. 770–778.
5 WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Patient Safety Day, 17 September 2024: “Improving diagnosis for patient safety”. Disponível em: https://www.who.int/news-room/events/detail/2024/09/17/default-calendar/world-patient-safety-day-17-september-2024-improving-diagnosis-for-patient-safety. Acesso em: 4 set. 2024.
6 ALBUQUERQUE, Aline. Empatia nos Cuidados em Saúde: comunicação e ética na prática clínica. Rio de Janeiro: Manole, 2023.
7 AGENCY FOR HEALTHCARE RESEARCH AND QUALITY. Current State of Diagnostic Safety: Implications for Research, Practice, and Policy. Disponível em: https://www.ahrq.gov/diagnostic-safety/resources/issue-briefs/dxsafety-current-state.html. Acesso em: 4 set. 2024.
8 CLINICAL EXCELLENCE COMMISSION. Diagnostic Error: Learning Resource For Clinicians. Disponível em: https://www.cec.health.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0005/305843/Diagnostic-Error-Learning-Resource-for-Clinicians.pdf, Acesso em: 4 set. 2024
9 MCDONALD, Kathryn M.; BRYCE, Cindy L; GRABER, Mark L. The patient is in patient involvement strategies for diagnostic error mitigation. BMJ Qual Saf, v. 2, 2013, ii33-ii39.
10 CLINICAL EXCELLENCE COMMISSION. Diagnostic Error: Learning Resource For Clinicians. Disponível em: https://www.cec.health.nsw.gov.au/__data/assets/pdf_file/0005/305843/Diagnostic-Error-Learning-Resource-for-Clinicians.pdf, Acesso em: 4 set. 2024.
11 GIARDINA, Traber D. et al. Learning from Patients’ Experiences Related to Diagnostic Errors is Essent
12 WORLD HEALH ORGANIZATION. Diagnostic Errors. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/252410/9789241511636-eng.pdf. Acesso em: 4 set. 2024.
13 SUAREZ, Nataly et al. Collaborative Diagnostic Conversations Between Clinicians, Patients, and Their Families: A Way to Avoid Diagnostic Errors. Mayo Clin Proc Innov Qual Outcomes. 2023 Aug; 7(4): 291–300.