Em minha segunda experiência profissional como enfermeira, trabalhei no cuidado de enfermagem numa grande rede hospitalar nacional. Em uma das enfermarias que trabalhava (unidades abertas com vários pacientes em torno de um único posto de enfermagem) um jovem profissional de medicina chamava atenção de todos da equipe de enfermagem e dos demais pacientes. Ao chegar na enfermaria, ele pegava uma cadeira e sentava-se ao lado do paciente e do acompanhante, e assim realizava sua visita diária, para avaliar e conversar com o paciente.
Sua atenção e cuidado com esse gesto impressionavam a todos em torno daquele encontro. Esse profissional infelizmente não está mais entre nós (apesar de ser muito jovem no momento de sua partida), porém a lembrança de sua atuação me traz memórias valiosas. Felizmente, ao longo da minha carreira profissional, conheci vários profissionais com características semelhantes e inspiradoras.
Como paciente, em um dos momentos mais difíceis de minha vida, passei por uma internação hospitalar que me causou muita dor e sofrimento. No momento de maior desafio, tanto físico como emocional, a médica que me acompanhava sentou-se ao lado da minha cama de hospital para me acompanhar e apoiar. Acho que ela não tem ideia do impacto que isso tem em mim até hoje, e de como guardo seu gesto com admiração pela profissional que ela é. Posso citá-la nesse relato, pois acredito que bons exemplos no cuidado com paciente devem ser seguidos
sempre. Recentemente fui atendida novamente por ela, e em seu consultório não existe uma mesa como barreira entre profissional e paciente. Obrigada Dra. Fernanda Marques.
Essa semana me surpreendi ao ler um estudo realizado em hospital publico do Texas, que justamente discutiu esse simples ato de sentar-se ao lado do paciente, e seu impacto no cuidado em saúde. Aceitaram participar do estudo 51 profissionais médicos que não sabiam exatamente o que estava sendo avaliado para não influenciar no seu comportamento e os resultados.
Foram avaliadas 125 visitas clinicas ao leito do paciente, em 60 dessas a cadeira do quarto, foi propositalmente reposicionada bem próxima e de frente para o leito (0,9m). Na outra metade foi deixada no lugar habitual, um pouco mais distante. Os pacientes foram informados de que o objetivo do estudo era investigar os padrões de prática dos médicos e a satisfação dos pacientes, sem menção ao componente “cadeira”.
Os médicos sentaram-se ao lado do paciente em 43 dos 125 encontros analisados (34%). No grupo de médicos que estavam nas visitas com “reposicionamento” da cadeira, 38 decidiram sentar-se próximos ao paciente. No grupo “sem reposicionamento” da cadeira apenas cinco desses profissionais se sentaram.
Após a alta hospitalar todos os pacientes foram convidados a responder questionários sobre seu tempo no hospital. Os pacientes que receberam visitas com os médicos sentados ao seu lado durante os encontros clínicos relataram maior confiança no planejamento clinico indicado pelos médicos para reestabelecimento de sua, e se sentiram mais informados sobre seu tratamento em comparação aos que não tiveram os médicos sentados ao seu lado.
Importante ressaltar que o tempo médio de duração das visitas foi o mesmo em ambos os grupos, e que mesmo com uma simples modificação de arquitetura hospitalar, a modificação no comportamento dos profissionais impactou beneficamente nos pacientes que estavam nesse grupo. Estes resultados demonstram que a melhora dos cuidados em saúde pode ser alcançada também com custos mínimos e mudanças comportamentais significativas dos profissionais e estimuladas pelas organizações de saúde.
Fica a reflexão sobre pequenas mudanças de atitudes, muitas vezes consideradas desnecessárias ou “fúteis”, que podem impactar significativamente nos pacientes durante momentos de insegurança e fragilidade emocional. Que como profissionais de saúde possamos sempre repensar nossos comportamentos rotineiros para a realmente estarmos presentes junto ao leito do paciente.
Fonte : Ruchita Iyer, Do Park, Jenny Kim, Courtney Newman, Avery Young, Andrew
Sumarsono.Effect of chair placement on physicians’ behavior and patients’
satisfaction: randomized deception trial. BmJ 2023;383:e076309