De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, o número de pessoas com demência no mundo é estimado em 35,6 milhões. Esse número dobrará até 2030 e será mais que o triplo em 2050. Uma consequência disso é que grande parte da população terá um membro da família com deficiências cognitivas, emocionais e/ou de comunicação[1].
Cuidar de pessoas com demência apresenta desafios tanto para os cuidadores profissionais como para os familiares. Os prejuízos cognitivos variam e podem ser difíceis de avaliar. Nos estágios iniciais da doença, a capacidade de tomada de decisão pode ser seletiva ou prejudicada devido a exacerbações ou complicações agudas. E é possível que alguns pacientes mesmo em estágios avançados da doença, nos períodos de lucidez, preservem a capacidade de tomada de decisão[2].
Objetivando-se aumentar a adesão às preferências autônomas de um paciente no caso de redução da sua capacidade decisional nos cuidados em saúde futuros, foram desenvolvidas, nos EUA na década de 1960, as Diretivas Antecipadas, entretanto, mostraram-se ineficazes para pacientes com demência, de acordo com a experiência prática e a pesquisa[3][4]. Por outro lado, o Plano Avançado de Cuidado – PAC, foi recomendado em uma recente pesquisa[5], como uma ferramenta apropriada para os pacientes com demência, uma vez que estimula a conversa sobre cenários de doenças específicos de demência e pode resolver efetivamente inconsistências entre as Diretivas Antecipadas e o comportamento observado do paciente; enfatiza a autonomia pessoal e relacional; pode ser geralmente adaptado aos estilos da tomada de decisão apoiada e às necessidades das pessoas idosas.
Ainda que haja evidências convincentes apontadas em estudos, o PAC não tem sido amplamente utilizado entre os pacientes com demência. [6] A pesquisa mencionada sugere, em primeiro lugar, esforços em nível nacional para aumentar a conscientização sobre as ferramentas que permitem às pessoas planejarem com antecedência seus cuidados em saúde e aumentar a sensibilização e os conhecimentos dos prestadores de cuidados de saúde sobre o PAC, a fim de permitir que as pessoas com o diagnóstico de demência e seus familiares se beneficiem dele. Acrescenta-se ainda, a necessidade de treinamento dos profissionais de saúde e/ou assistentes sociais para introduzir o PAC tanto para os pacientes quanto seus familiares. É fundamental, portanto, que o PAC seja incluído na rotina das consultas hospitalares/ambulatoriais a fim de garantir que as preferências, vontade e necessidades dos pacientes sejam conhecidas e aplicadas[7].
[1] Organização Mundial da Saúde. Demência. Uma prioridade de saúde pública. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/75263/9789241564458_eng.pdf;jsessionid=17929C21%20B89C7132E24C60BCF84F1506?%20Sequence%20=%201 . Acesso em: 03 maio 2021.
[2] HUGO J, GANGULI M. Dementia and Cognitive Impairment: Epidemiology, Diagnosis and Treatment. Clin Geriatr Med. August 1, 2014; 30 (3): 421–42.
[3] FAGERLIN A, SCHNEIDER CE. Enough: The Failure of the Living Will. Hastings Cent Rep. March 4, 2004; 34 (2): 30–42
[4] DE BOER, M; HERTOGH, C; DRÖES, R; JONKER C; EEFSTING; JA. Advance guidelines on dementia: issues of validity and effectiveness. Int Psychogeriatrics. March 2010; 22 (2): 201–8.
[5] BOSISIO, Francesca; STERIE, Anca; TRUCHARD, Eve R; et al. Implementing advance care planning in dementia care: results and insights from a pilot interventional trial. PREPRINT (Version 1) available at Research Square. 13 April 2021. Disponível em: [https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-383522/v1] Acesso em: 02 Maio. 2021
[6] Dening KH, Jones L., Sampson EL. Advance care planning for people with dementia: a review. Int Psychogeriatrics. December 2011; 23 (10): 1535–51.
[7] BOSISIO, Francesca; STERIE, Anca; TRUCHARD, Eve R; et al. Implementing advance care planning in dementia care: results and insights from a pilot interventional trial. PREPRINT (Version 1) available at Research Square. 13 April 2021. Disponível em: [https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-383522/v1] Acesso em: 02 Maio. 2021