Cintia Tanure
Adela Cortina (2013) relembra a fábula de Higino sobre a criação do ser humano realizada pelo “Cuidado”, e nos avigora que a essência dos seres humanos consiste na “Capacidade de Cuidar”.
Pacientes, como todos os envolvidos no cotidiano da vida, tem preocupações com seus entes queridos e seus compromissos diários ou não programados. Muitas vezes durante um tratamento ou na realização de exames periódicos, nós, profissionais de saúde, acreditamos que quando o paciente não cumpre orientações está sem motivação ou até mesmo descuidando de sua própria saúde.
Precisamos continuamente lembrar que além da saúde/ doença o paciente necessita lidar com outras apreensões como os filhos que necessitam de cuidados diários, a conta bancária que carece de ajustes, o trabalho que está mais difícil, e tantas outras atribulações cotidianas que se intercalam com o autocuidado.
Ao programar intervenções e mudanças na vida dos pacientes precisamos considerar que a doença não é (e nem precisa ser), o centro da vida do paciente, e mesmo na presença dessa, as outras preocupações não deixam de existir em ordem diversas de prioridade.
A Organização Mundial de Saúde assenta que colocar o paciente no centro do cuidado, significa garantir que sua voz e suas decisões influenciem a maneira como os serviços de saúde são programados e realizados.
Devemos buscar inspiração nas palavras de Kunneman (2021), as quais enfatizam que precisamos adequar o cuidado do paciente para garantir que possa efetivamente promover as suas prioridades, enquanto perturba minimamente suas vidas.
Cortina, Adela. Para que sirve realmente La Etica? Paidós. 2013.
WHO. Framework on integrated, people-centred health services. Report by the Secretariat. 2016 Marleen Kunneman, Victor Montori. Making Care Fit in the Lives and Loves of Patients With Chronic Conditions. JAMA. 4(3):e211576. 2021 doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.157
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